Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andavam acontecem na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar sol com peneireira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro para cortar caminho, tática que quase todo mundo, que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos. E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garrafa nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com a mamãe. Meu pai ouvir lá do quarto e veio explicar. Disse em que épocas normais bastava uma coisa ou outra; mas agora a Companhia não podia admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc – e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.
Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo
a) culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano. RESPOSTA CORRETA
b) sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
c) ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
d) incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
e) espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.