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ENEM 2023

A representação da mulher apresentada no Texto I pode ser explicada pelo Texto II

TEXTO I
Zapeei os canais, como há dezenas de anos faço, e pá: parei num que exibia um episódio daquela velha família do futuro, Os Jetsons.
Nesse episódio em particular, a Jane Jetson, esposa do George, tratava de dirigir aquele veículo voador deles. Meu queixo foi caindo à medida que as piadinhas machistas sobre mulheres dirigirem foram se acumulando. Impressionante! Que futuro careta aqueles roteiristas Imaginavam! Seriam incapazes de projetar algo melhor, e não apenas em termos de tecnologias, robôs e carros voadores? Será que nossa máxima visão de futuro só atinge as coisas, e jamais as pessoas? Como a Jane, uma mulher de 33 anos no desenho, poderia ser o que foram as minhas bisavós?
O futuro, naquele desenho, se esqueceu de ser melhor nas relações entre as pessoas. Aliás… tão parecido com a vida.
Fiquei de cara, como dizemos aqui, ou como dizíamos na minha adolescência, pobre adolescência, aprendendo, sem querer e sem muita defesa, um futuro tão besta quanto o passado.
TEXTO II
Masculino e feminino são campos escorregadios que só se definem por oposição, sempre incompleta, um do outro. São formações imaginárias que buscam produzir uma diferença radical e complementar onde só existem, de fato, mínimas diferenças. O resto é questão de estilo. Até pelo menos a segunda metade do século 19, o divisor de águas era claro: os homens ocupavam o espaço público. As mulheres tratavam da vida privada. Privada de quê? De visibilidade, diria Hannah Arendt. De visibilidade pública. Do que as mulheres estiveram privadas até o século 20 foi de presença pública manifesta não em imagem, mas em palavra. A palavra feminina, reservada ao espaço doméstico, não produzia diferença na vida social.
A representação da mulher apresentada no Texto I pode ser explicada pelo Texto II no que diz respeito à (às)
a) censura a formas de expressão femininas.
b) ausência da figura feminina na vida pública.
c) construções imaginárias cristalizadas na sociedade.
d) limitações inerentes às figuras femininas e masculinas.
e) dificuldade na atribuição de papéis masculinos e femininos.

A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar” como patrimônio linguístico que

Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Haviam também vestígios de que a terra fora resolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu. A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar. O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do cantor; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário. Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.
A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar” como patrimônio linguístico que
a) representa a memória de uma língua africana extinta.
b) exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
c) preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral. RESPOSTA CORRETA
d) resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.
e) remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.

Nesse poema, a representação do sentimento amoroso recupera a tradição lírica

Migalhas
Entre a toalha branca e um bule de café
seria inapropriado dizer
eu não te amo mais.
Era necessário algo mais solene,
um jardim japonês
para as perdas pensadas,
um noturno de tempestade
para arrebentar de dor,
uma praia de pedras para chorar.
em silêncio, uma cama alta
para o incenso da despedida,
uma janela
dando para o abismo.
No entanto você abaixa os olhos
E recolhe lentamente as migalhas de pão
sobre a mesa posta para dois
Nesse poema, a representação do sentimento amoroso recupera a tradição lírica, mas se ajusta à visão contemporânea ao
a) invocar o interlocutor para uma tomada de posição.
b) questionar a validade do envolvimento romântico.
c) diluir em banalidade a comoção de um amor frustrado. RESPOSTA CORRETA.
d) transformar em paz as emoções conflituosas do casal.
e) condicionar a existência da paixão a espaços idealizados.

Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço

Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andavam acontecem na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar sol com peneireira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro para cortar caminho, tática que quase todo mundo, que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos. E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garrafa nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com a mamãe. Meu pai ouvir lá do quarto e veio explicar. Disse em que épocas normais bastava uma coisa ou outra; mas agora a Companhia não podia admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc – e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.
Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo
a) culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.
b) sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
c) ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
d) incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
e) espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.

Descrevendo seu gato, o narrador remete ao contexto e a protagonistas da Inconfidência para

Era um gato preto, como convinha a um cultor das boas letras, que já lera Poe traduzido por Baudelaire. Preto e gordo. E lerdo. Tão gordo e lerdo que a certa altura observei que ia perdendo inteiramente as qualidades características da raça, que são em suma o ódio de morte aos ratos. Já nem os afugentava! Os ratos de Ouro Preto são também dignos e solenes – não ria – tradicionalistas… descendentes de outros fatos que naqueles mesmos casarões presenciaram acontecimentos importantes da nossa história… No sobrado do desembargador Tomás Antônio Gonzaga, imagine o senhor uma reunião dos sonhadores inconfidentes, com os antepassados daqueles ratos e passearem pelo sótão ou mesmo pelo assoalho por entre as pernas dos homens absortos na esperança na independência nacional! E depois, os ancestres daqueles roedores que eu via agora deslizar sutilmente no meu quarto podiam ter subido pelo porte da ignomínia colonial, onde estava exposta a cabeça do Tiradentes.! E quando as órbitas se descarnaram ignominiosamente, podiam até ter penetrado no recesso daquele crânio onde verdadeiramente ardera a literatura, com a simplicidade do heroísmo, a febre nacionalista…
Descrevendo seu gato, o narrador remete ao contexto e a protagonistas da Inconfidência para criar u efeito desconcertante centrado no
a) desenho imaginativo do casario colonial de Ouro Preto.
b) efeito de apagamento de limites entre ficção e realidade.
c) vínculo estabelecido entre animais urbanos e literatura
d) questionamento sutil quanto à sanidade dos inconfidentes.
e) contraste entre austeridade pomposa e imagem repugnante.

Perante o outro, o eu lírico revela, na força das memórias evocadas, a

Girassol da madrugada
Teu dedo curioso me segue lento no rosto
Os sulcos, as sombras machucadas por onde a
[vida passou.
Que silêncio, prenda minha… Que desvio triunfal
[da verdade,
Que círculos vagarosos na lagoa em que uma asa
[gratuita roçou…
Tive quatro amores eternos…
O primeiro era moça donzela,
O segundo… eclipse, boi que fala, cataclisma
O terceiro era a rica senhora,
O quatro és tu… E eu afinal me repousei dos
[meus cuidados
Perante o outro, o eu lírico revela, na força das memórias evocadas, a
a) vergonha das marcas provocadas pela passagem do tempo.
b) indecisão em face das possibilidades afetivas do presente.
c) serenidade sedimentada pela entrega pacífica ao desejo
d) frustação causada pela vontade de retorno ao passado
e) disponibilidade para a exploração do prazer efêmero.

Pela voz de uma empregada da casa, a descrição de um dos membros da família

Ainda daquela vez pude constatar a bizarrice dos costumes que construíam as leis mais ou menos constantes do seu mundo: ao me aproximar, verifiquei que o Sr. Timóteo, gordo e suado, trajava um vestido de franjas e lantejoulas que pertencera a sua mãe. O corpete descia-lhe excessivamente justo na cintura, e aqui e ali rebentava através da costura um pouco da carne aprisionada, esgarçando a fazendo e tornando o prazer de vestir-se daquele modo uma autêntica espécie de suplício. Movia-se ele com lentidão, meneando todas as suas franjas e abanando-se vigorosamente com um desses leques de madeira de sândalo, o que o envolvia numa enjoativa onda de perfume. Não sei direito o que colocara sobre a cabeça, assemelhava-se mais um turbante ou a um chapéu sem abas de onde saíam vigorosas mechas de cabelos alourados. Como era costume seu também, trazia o rosto pintado – e para isto, bem como para suas vestimentas, apoderara-se de todo o guarda-roupa deixado por sua mãe, também em sua época famosa pela extravagância com que se vestia – o que sem dúvida fazia sobressair-lhe o nariz enorme, tão característico da família Meneses.
Pela voz de uma empregada da casa, a descrição de um dos membros da família exemplifica a renovação de ficção urbana dos anos 1950, aqui observada na
a) opção por termos e expressões de sentido ambíguo.
b) crítica social inspirada pelo convício com os patrões.
c) descrição impressionista de fetiche do personagem.
d) presença de um foco narrativo de caráter impreciso.
e) ambiência de mistério das relações entre familiares.

Embora oriundas de momentos históricos diferentes, essas letras de canção

TEXTO I
Alegria, alegria
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?

TEXTO II
Anjos tronchos
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais
Embora oriundas de momentos históricos diferentes, essas letras de canção têm em comum a
a) referência às cores como elemento de crítica a hábitos contemporâneos.
b) percepção da profusão de informações gerada pela tecnologia.
c) contraposição entre os vícios e as virtudes da vida moderna.
d) busca constante pela liberdade de expressão individual.
e) crítica à finalidade comercial das notícias.

O uso não padrão dos colchetes para nomear a revista atribui-lhes uma nova função

Como é bom reencontrar os leitores da Revista da Cultura por meio de uma publicação com outro visual, conteúdo de qualidade e interesses ampliados”! ]cultura[, este nome simples, e eu diria mesmo familiar, nasce entre dois colchetes voltados para fora. E não é por acaso: são sinais abertos, receptivos, propícios à circulação de ideias. O DNA da publicação se mantém o mesmo, afinal, por longos anos montamos nossas edições com assuntos saídos das estantes de uma grande livraria – e assim continuará sendo. Literatura, socióloga, filosofia, artes… nunca será difícil montar a pauta da revista porque os livros nos ensinam que monotonia é só para quem não lê.
O uso não padrão dos colchetes para nomear a revista atribui-lhes uma nova função e está correlacionado ao (à)
a) perfil de público-alvo, constituído por leitores exigentes e especializados em leitura acadêmica.
b) propósito do editor, chamando a atenção para o rigor normativos nos textos da revista.
c) exclusivamente na seleção temática, direcionada para a área das ciências humanas.
d) identidade da revista, voltada para a recepção e a promoção de ideias circulantes em livros.
e) padrão editorial dos artigo, organizados em torno de uma proposta de design inovador.

Nesse texto, a Língua Brasileira de Sinais (Libras)

Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. A mesma coisa acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora ela seja a comunicação oficial da comunidade surda no Brasil, existem sinais que variam em relação à região, à idade e até ao gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, possui sinais diferentes no Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. São os regionalismos na língua de sinais.
Essas variações são um dos temas da disciplina Linguísticas na língua de sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do segundo semestre. “Muitas pessoas pensam que a língua de sinais é universal, o que não é verdade”, explica a professora e chefe do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. “Mesmo dentro de um mesmo país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, à faixa etária e até ao gênero dos usuários”, completa a especialista.
Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e conceitos. Em São Paulo, o sinal de “cerveja” é feito com um giro do punho como uma meia-volta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador e médio batem no lado do rosto. Também ocorrem mudanças históricas. Um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza.
Nesse texto, a Língua Brasileira de Sinais (Libras)
a) passa por fenômenos de variação linguística como qualquer outra língua. RESPOSTA CORRETA
b) apresenta variações regionais, assumido novo sentido para algumas palavras.
c) sofre mudança estrutural motivada pelo uso de sinais diferentes para algumas palavras.
d) diferencia-se em todo o Brasil, desenvolvendo cada região a sua própria língua de sinais.
e) é ininteligível para parte dos usuários em razão das mudanças de sinais motivadas geograficamente.